Contraponto: Quando o Nacionalismo não era Fascismo.





O leitor pode está se perguntando agora, de onde surgiu essa ideia de que o Fascismo não é Nacionalista? Bom, pode soar estranho essa distinção que faço, mas, nunca foi para "Associação Nacionalista italiana" e para os próprios fascistas lá no início da década do século XX.  Muito antes da existência do "Fascismo" Italiano, o fenômeno Nacionalista já atuava dentro da Itália do finalzinho do século XIX e início do XX, numa época que seria impossível associar os próprios "Fasci" a qualquer rótulo "direitista" ou "extrema direita" na política polarizada do mundo atual. 

Foi Alfredo Oriani, escritor que esteve durante muito tempo ligado sobretudo a publicações históricas e políticas, da poesia nacional italiana,  formalizou uma primeira base ideológica para o que entendemos de nacionalismo italiano, são nas obras Fino a Dogali, em que analisava as causas da crise religiosa e económica da nova Itália; A luta política na Itália que narra os acontecimentos históricos italianos desde a Idade Média até o Risorgimento; em A revolta ideal publicada em 1908 em que o escritor explicita suas convicções políticas, afirmando a necessidade de um Estado forte que regule a vida social com amplos poderes. Marcadamente nietzschiano , acreditava na chegada à cena política nacional de uma personalidade carismática, capaz de reavivar os destinos do país; ao mesmo tempo, afirma a necessidade de criar um Estado capaz de exercer um controle estrito sobre a vida de seus cidadãos. 

A obra, e em geral a figura do próprio Oriani, se tornará uma referência cultural para os intelectuais fascistas, entre eles podemos citar Berto Ricci e Romano Bilenchi por exemplo.  O próprio Mussolini considerava Oriani um profeta da pátria, um antecipador do fascismo, um exaltador das energias italianas . Mas, foi nesse interim que surgiu um movimento de cunho nacional, cuja importância na história do Fascismo é relevante, contudo, desde antes da Criação do Partido Fascista, esse movimento e Partido já se apresentavam como a ala direitista ou para muitos uma extrema direita na itália do inicio do seculo 20, sua integração ao Fascismo aconteceu em 1923, foi Maurizio Maraviglia influente ao lado de Francesco Coppola e Alfredo Rocco cada vez mais identificado com as ideias fascistas , fez parte da delegação encarregada em 1923 de negociar a fusão da Associação no Partido Nacional Fascista.   

Mas, voltando a ANI, eles eram bem organizados, possuiam um jornal o "L'Idea Nazionale" jornal esse publicado pela primeira vez em 1º de março de 1911, o décimo quinto aniversário da Batalha de Adwa, com sede em Roma,  L'Idea Nazionale foi coeditado por Enrico Corradini, Roberto Forges Davanzati e Luigi Federzoni . Outros escritores incluíram Francesco Coppola e o proprio Maurizio MaravigliaNos primeiros três anos, L'Idea Nazionale teve uma periodicidade semanal. Em 1914, após o início da Primeira Guerra Mundial , decidiu-se transformá-lo em jornal. Para tanto, o jornal buscava financiamento junto a industriais de orientação nacionalista e protecionista. Em 14 de maio de 1914, foi criada a nova editora "L'Italiana" com um capital social de 700.000 liras divididas em 140 ações.

À frente das negociações estava um industrial próximo à Associação Nacionalista: Dante Ferraris , um industrial metalúrgico e vice-presidente da Fiat . As doações vieram dos setores siderúrgico, mecânico e açucareiro: como a Savona Steel Company e a Sociedade Italiana da Indústria Açucareira,  a empresa Ansaldo ( que tambem financiou os Fasci di Combati de mussolini) e a Società Italiana Ernesto Breda . Dante Ferraris foi presidente da primeira diretoria. O financiamento da comunidade empresarial permitiu que L'Idea Nazionale fosse publicado regularmente. Em troca, os nacionalistas apoiaram a indústria em larga escala. Em janeiro de 1916, por exemplo, Alfredo Rocco escreveu que os industriais eram afastados dos cargos de poder, quando deveriam estar mais envolvidos na vida política. Até milicia eles tinham, a chamada  "milizia dei Sempre Pronti per la Patria e per il Re".

O conteudo Ideológico da Associação Nacionalista e seu jornal eram bem claros,  defendiam o nacionalismo militarista e a criação de um império italiano . Primeiro, o jornal endossava a guerra da Itália em 1911 contra o Império Otomano , pedindo a anexação das colônias do norte da África . Depois apoiou o irredentismo , fazendo campanha para que a Itália entrasse na Primeira Guerra Mundial contra as Potências Centrais. Essa ideologia do ANI permaneceu amplamente indefinida por algum tempo, exceto por ser nacionalista. O ANI estava dividido entre partidários de diferentes tipos de nacionalismo, desde autoritário corporativo, as posições monarquicas, democráticas, etc etc.  

Corradini em sua obra (Nazionalismo) atuando como porta-voz mais popular do ANI, ligou o "esquerdismo" ao nacionalismo ( uma tese que os sindicalistas revolucionários) também adotaram, principalmente Antonio Lanzillo, influente autor sindicalista, ao afirmar que a Itália era uma " nação proletária " que estava sendo explorada pelo capitalismo internacional, o que levou a Itália a ficar em desvantagem econômica no comércio internacional e seu povo dividido em linhas de classe, no entanto, ao em vez disso, ao defender a revolução nacional Proletaria, ele afirmou que a vitória contra essas forças opressoras exigiria o sucesso do sentimento nacionalista italiano, ele dizia que; 

"Devemos começar reconhecendo o fato de que existem nações proletárias assim como classes proletárias; ou seja, existem nações cujas condições de vida estão sujeitas ao modo de vida de outras nações, assim como as classes. Isto é percebido, o nacionalismo deve insistir firmemente nesta verdade: a Itália é, material e moralmente, uma nação proletária. " ( Relatório ao Primeiro Congresso Nacionalista)."  

Nos anos de 1914, o ANI começou a se inclinar para o nacionalismo autoritário com seu endosso à criação de um estado corporativo autoritário, uma tese difundida pelos juristas do movimento como Carlo Costamagna, Luigi Ferdozoni e Alfredo Rocco. Tal estado corporativo seria liderado por uma assembléia corporativa em vez de um parlamento, que seria composto por sindicatos, organizações empresariais e outras organizações econômicas que trabalhariam dentro de um poderoso governo central para regular as relações entre empresas e trabalho, organizar a economia , acabar com o conflito de classes e tornar a Itália um estado industrial que poderia competir com as potências imperiais e estabelecer seu próprio império. 


Bibliografia; 


Erminio Fonzo, Storia dell'Associazione nazionalista italiana. 1910-1923.

Elena Papadia, Nel nome della nazione. L'Associazione nazionalista italiana in età giolittiana.

Enrico Corradini, L'unità e la potenza delle nazioni.

Enrico Corradini, Nazionalismo.

Erminio Fonzo Storia dell’Associazione Nazionalista Italiana (1910-1923). 

Fino a Dogali, Alfredo Oriani.

A revolta Ideal, Alfredo Oriani.





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