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Como Olavo conseguiu deturpar um conceito gramsciano e moldou a mente de milhares de brasileiros.

 


Não é de hoje que a figura de Olavo de Carvalho vem sendo importante para mudança da mentalidade política no Brasil. Olavo, falecido a pouco tempo, transformou-se em pedra filosofal da classe média brasileira, com uma alta projeção nas mídias alternativas, e com uma série de obras publicadas, Olavo cativou o brasileiro que naquele momento encontrará um terreno fértil para suas teses e elucubrações.

bom, esse pequeno artigo não tende a defesa de marxismos, ou esquerdas politicas no brasil, mas simplesmente demonstrar e desconstruir os erros de Olavo, e como Olavo ( consciente ou não) disso criou uma serie de pseudo argumentos que solidificaram uma serie de concepções dentro da formação teórico politica da direita brasileira. Vejamos, em um dos seus livros mais importantes, o Nova Era e a Revolução Cultural Olavo diz; 


(A Nova Era e a Revolução Cultural: Capítulo II)

Capítulo II

STO. ANTONIO GRAMSCI
E A SALVAÇÃO DO BRASIL

"Para operar essa virada, Gramsci estabeleceu uma distinção, das mais importantes, entre “poder” ( ou, como ele prefere chamá-lo, “controle” ) e “hegemonia”. O poder é o domínio sobre o aparelho de Estado, sobre a administração, o exército e a polícia. A hegemonia é o domínio psicológico sobre a multidão. A revolução leninista tomava o poder para estabelecer a hegemonia. O gramscismo conquista a hegemonia para ser levado ao poder suavemente, imperceptivelmente." 

Bom, nesse Trecho podemos observar uns equívocos de Olavo. Um deles é a confusão feita com os termos ou as categorias apresentadas por Gramsci nos Cadernos. Não é novidade que para Gramsci a  sociedade se estrutura em classes. Contudo, para que uma classe possa se colocar como sujeito histórico, isto é, como motor que guia, plasma e organiza a sociedade inteira, ela tem um duplo caráter, por um lado deve distinguir-se e conquistar sua "autoconsciência critica", ou seja, deve configurar-se como força que, com a base na própria ideologia, na própria organização teórica e planejamento,  na sua própria superioridade moral e intelectual, possa configurar-se como (classe dirigente). No entanto,  uma classe torna-se dirigente quando, tendo forjado as "energias e capacidades necessarias" além disso, ao perceber  o seu direito de dirigir a sociedade, obtém da própria sociedade um certo "consentimento" das chamadas classes subalternas, fundando assim um bloco histórico, ou seja,   um sistema articulado/orgânico Holístico de alianças sociais ligadas por uma ideologia comum, por uma  cultura comum, universal, então o "domínio cultural" que fala Olavo é consentido, justamente pelo debate dialógico intermitente no seio da opinião pública, não existe imperceptíbilidade, ocultamento ou até mesmo um caráter esotérico ( no sentido privado, não público) para quem cria um partido denominado Comunista não é mesmo? Já que Gramsci fez exatamente isso na Itália e sua época de práxis. 

Como o Gramsci diz; "Nunca existiu um Estado sem hegemonia" e, substâncialmente, a luta entre duas classes pelo dominio é a luta entre duas hegemonias. Nessa ênfase, deve-se ainda distinguir entre a classe dominante e a classe dirigente, como explica Gramsci a  supremacia de um grupo social manifesta-se de dois modos: pelo primeiro modo, como domínio e como direção "intelectual-etica". Mas deve-se ir além; a distinção  entre domínio e hegemonia permite a Gramsci traçar outra distinção  significativa, ela se da entre sociedade politica e sociedade civil. A sociedade politica dada pelo Estado, ou seja, pelo poder como força,  pela maquina juridico-coercitiva. Já  a sociedade civil é  dada por uma trama das relações que os homens estabelecem nas instituições civis como os sindicatos, os partidos, as Igrejas a própria  imprensa, as universidades e escolas. São essas instituições da sociedade civil que a classe que tende a hegemonia deve difundir, através  da sua práxis incessante, aquilo que podemos considerar como os  valores, as  crenças, seus ideais, criam assim a unidade axiológica e intelectual entre os diversos grupos sociais, o que  cria o consenso em torno de uma cultura que por sua vez, apresenta-se com os sinais de  validade universal, indeterminadas, além de ter a força persuasiva capaz  de resolver os problemas prementes da vida nacional. É na criação do consenso, que grupo social hegemônico cria a base do dominio nacional, e quem sabe internacional? Essa é a Teleologia apontada por Gramsci, a grande finalidade . Mas uma etapa não deve superar a outra. A particularidade não sobrepõe o todo indefinido.

No seio disso tudo, urge uma questão, Olavo de Carvalho teria interpretado, feito uma exegese equivocada do pensamento de Gramsci no que tange à uma das categorias, o conceito seria aquilo que o Marxista Sardo denominou de "Revolução Passiva". Vejamos, Gramsci reelaborou o termo "revolução passiva", retirando o conceito do livro (Saggio storico sulla rivoluzione di Napoli), do teórico político italiano Vincenzo Cuoco, nessa obra esss autor aborda a chamada Revolução Napolitana de 1799. Em síntese, na avalição de Gramsci,   no Risorgimento, o novo governo do Piemonte assumiu  o comando de uma Itália unificada, mas,  sem um verdadeiro consenso nacional.  A elite política do Reino, era mais dominante do que dirigente e incorporou as alas mazzinianas de Giuseppe Mazzini, além das e garibaldinas de Garibaldi, isso ocorreu  naquilo que Gramsci denominou de    à força de “transformismo”, um tipo de conduta política com o compromisso e uma finalidade em privar os partidos de oposição da sua liderança pelo recurso de atraí-los para o sistema político ali montado.  É nesse âmbito que o Marxista Sardo denominou o transformismo como uma forma complexa do processo sociopolítico, chamada de (revolução passiva), uma categoria  identificada por ele de duas formas: no primeiro ponto,  ocorre uma revolução sem participação das massas, como o Risorgimento, e, na segunda sucede um progresso dissimulado de classes sociais impedidas de avançar abertamente,  como a burguesia na França da Restauração, daí a rotulação posta por Gramsci de “revolução-restauração”. Dessa forma, Gramsci entende que no desenvolvimento do  capitalismo italiano faltou uma iniciativa popular unitária, assim como se verificou que este desenvolvimento era uma reação das classes dominantes a subversão elementar e desorganizada das massas populares, isso ante aos movimentos de restaurações vindos de baixo, ou seja, de “revoluções-restaurações” ou melhor dizendo  “revoluções passivas”.


Referências; 


COUTINHO, Carlos Nelson. As Categorias de Gramsci e a Realidade Brasileira.

GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. V.5

Cadernos do Cárcere. V. 1, Antonio Gramsci.

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